A Presença Negra na Construção da Arte Brasileira

A Presença Negra na Construção da Arte Brasileira

Durante o mês de novembro, vamos disponibilizar aqui uma sequência de conteúdos alinhados com o nosso projeto AFROTALENTOS, onde convidamos os colaboradores negros da AMARO para contar mais sobre o talento negro do Brasil afora. E, para encerrar, convocamos a Thaís Henrique, nossa Guru de Customer Service para falar sobre a influência negra na arte brasileira. Confira a seguir.

A arte é o meio que encontramos para expressar nossas emoções, para provocar questionamentos, refletir e contar a nossa história. Em um país plural como o nosso, é impossível não imaginar que a nossa arte deixe de ecoar a diversidade de origens e cores que formam o Brasil. Porém, nem toda contribuição cultural recebe o holofote que merece. Hoje estou aqui para lembrar alguns dos mais importantes artistas do país, cada um em sua vertente e com a sua incrível história.

ZÓZIMO BULBUL, E O CINEMA BRASILEIRO

Nascido em 1937, no Rio de Janeiro, Jorge da Silva foi ator, cineasta, produtor e roteirista.

Começou sua carreira no filme Cinco Vezes Favela, um clássico do Cinema Novo, movimento brasileiro que se destacou por criticar a desigualdade social nas décadas de 1960 e 1970.

Zózimo foi o primeiro protagonista negro de uma novela ("Vidas em Conflito", 1969), mas insatisfeito com a representação do negro na dramaturgia, resolveu escrever e dirigir seus próprios filmes. Em seu currículo está o curta "Alma no Olho" (1974), o longa "Abolição" (1988) entre outros, além dos mais de 30 filmes em que atuou, como o icônico "Terra em Transe" (Glauber Rocha, 1967).

Em 2007, ele fundou o Centro Afro Carioca de Cinema, desenvolvendo um trabalho que se torna legado e referência para os futuros cineastas negros do Brasil.

ANTÔNIO RAFAEL PINTO BANDEIRA, E O PAISAGISMO BRASILEIRO

O paisagismo é um gênero que surgiu no período medieval, retratando paisagens em pequenas miniaturas, firmando-se como arte no século XVII. Como grandes nomes do gênero, temos Salomon van Ruysdael, Albrecht Dürer, Richard Wilson e no Brasil: Antônio Rafael Pinto Bandeira. Neto de escravizados, aos 16 anos o pintor matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes, participou das exposições gerais de Belas Artes, foi professor de desenho e pintura no Liceu de Artes e Ofícios de Salvador (BA), ganhou diversos prêmios pelas suas obras nos seus curtos 33 anos de vida. Pinto Bandeira dedicou-se à natureza-morta, ao retrato, mas se destacou nas paisagens, sendo considerado um dos maiores paisagistas brasileiros do século XIX.

Em uma exposição no Museu Antônio Parreiras, dedicada a obra, afirma-se que o artista não se limitou à cópia fidedigna das paisagens que retratou, pois, “paisagista extremamente sensível, fez uso de uma fatura e de um colorido admiráveis", observando a natureza ‘através de olhos tristes’".

AGOSTINHO DOS SANTOS, A VOZ DO BOLERO E BOSSA NOVA

Em 1932, nasceu em São Paulo, Agostinho dos Santos, cantor e compositor. Iniciou sua carreira como crooner de Orquestra, mas seu grande sucesso foi dar voz às canções "Manhã de Carnaval" e "Felicidade" da peça Orfeu da Conceição escrita por Vinicius de Moraes.

Nos anos 1950 e 1960 ganhou prêmios e atuou como compositor. Apesar de ser conhecido por cantar bossa-nova e boleros, arriscou-se no rock'n'roll ao gravar "Até Logo, Jacaré", uma versão para "See You Later, Alligator", de Bill Halley & His Comets.

Ao lado do conjunto de Oscar Castro Neves, apresentou-se no Carnegie Hall (Nova York) no Festival de Bossa Nova, a noite que lançou ao mundo o gênero tipicamente brasileiro.

ABDIAS DO NASCIMENTO, E O TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO

Abdias do Nascimento nasceu em 1914, foi ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2010. Nos anos 1940, ela fundou e dirigiu o TEN, Teatro Experimental do Negro, uma companhia teatral que buscava a valorização da cultura afro-brasileira, criando uma estética própria, afastando-se do padrão dramatúrgico ditado por outras escolas teatrais.

A companhia teve a presença de nomes como Ruth de Souza e reunia diversas vertentes, como pintores, poetas, advogados, além de criar entidades como a Associação das Empregadas Domésticas e o Conselho Nacional de Mulheres Negras, e o jornal Quilombo.

MARIA FIRMINA, A PRIMEIRA ROMANCISTA

Em 1822, nasceu em São Luís, Maria Firmina dos Reis, mulher que teve a vida marcada pelo pioneirismo. Aos 22 anos, foi a primeira professora concursada de seu estado e também é considerada a autora do primeiro romance abolicionista do país, além de ser a primeira mulher negra a publicar um livro: "Úrsula" (1859). O romance, que por meio da humanização de personagens escravizados fazia uma crítica direta a escravidão, tornou-se o ponta-pé inicial para a formação de todo um gênero literário.

Esquecida durante décadas, sua obra foi recuperada em 1962 pelo historiador paraibano Horácio de Almeida em um sebo no Rio de Janeiro. Porém, o ostracismo, provavelmente causado pelo silenciamento de sua crítica à época, nos impediu de conhecer outros possíveis textos de Firmina ou até mesmo mais detalhes sobre a sua vida.

JOSÉ EZELINO, A CAATINGA E A FOTOGRAFIA

Nascido em 1889, José Ezelino foi o primeiro fotógrafo negro da região do Seridó, dividida entre os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Pioneiro do registro da identidade social e cultural do local, escolhendo imortalizar o cotidiano da época, enaltecendo as tradições, as reuniões familiares, os amigos e sua cidade, Caicó. Por isso, seu trabalho é considerado único, quando a maioria dos registros de negros mostravam apenas pobreza.

Além de fotógrafo, Ezelino também foi músico e tocava diversos instrumentos de sopro, sendo declaradamente apaixonado por Jazz.

Sua obra está viva no livro “Quando a pele incendeia a memória”, de autoria da pesquisadora ngela Almeida.

  • Fontes: Centro Afro Carioca de Cinema, A Cor da Cultura, Museu Afro Brasil, Folha de São Paulo, Rádio Cultura Brasil, Fundação Cultural Palmares, Papo Cultura, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Engenho de Fotos, Revista Cult e Portas das Letras

Conhece outros artistas negros que influenciaram a construção da arte brasileira? Conta pra gente nos comentários.